A dupla criativa Hunter & Gatti fundiu sua paixão pela pintura e fotografia em um projeto com a exposição “I Will Make You a Star”. Em exibição durante a Art Basel em Miami este mês de 1º a 30 de dezembro no KATSUYA by Starck, as imagens levam sua fotografia de moda de figuras notáveis como Pharrell Williams, Diane Kruger, Toni Garrn, Anja Rubik e Bruno Mars e transcende as imagens com “over -pinturas” semelhantes a máscaras cobrindo os rostos dos sujeitos. Inspiradas nas obras de arte neoexpressionistas de Jean-Michel Basquiat, as peças de tela pretendem “dar vida eterna” às imagens originais. A FGR recentemente teve a chance de conversar com Hunter & Gatti (também conhecido como Cristian Hunter e Martin Gatti) sobre a exposição e o que inspira seu trabalho.
Adoramos a sugestão de quebrar a beleza [de uma pessoa famosa], alterar o rosto e torná-lo quase irreconhecível, tentando mostrar que você não sabe quem é essa pessoa.
Qual é a inspiração por trás da exposição? O que o torna diferente dos outros que você fez?
A inspiração da exposição tem a ver com o nosso desejo de dar uma nova vida ao formato tradicional da fotografia e dar-lhe um significado totalmente novo. Há uma certa noção de canibalismo no mundo da moda, pois uma imagem que hoje pode ser considerada importante ou inovadora pode ser facilmente esquecida amanhã. Além disso, estamos vivendo um momento em que ser comercial é mais importante do que ser criativo. É por isso que começamos a pintar nossas fotografias há três anos. Foi uma tentativa de perpetuar a velocidade de fogo da moda e o ciclo rápido das tendências, para encontrar um novo significado e dar vida eterna às nossas fotos. E, de certa forma, torná-los mais humanos com o uso das nossas mãos, das pinturas e tudo mais.
Mais particularmente, para “I Will Make You A Star”, nossa mais recente série de retratos de celebridades repintados, nos inspiramos nas pinturas neo-expressionistas de Jean-Michel Basquiat. Nossa intenção foi explorar a transitoriedade da fama e os limites da cultura popular, unindo nossos sóbrios retratos em preto e branco com a força visceral de Basquiat que os transforma em algo único e atemporal.
Por que se chama “Farei de você uma estrela”?
A primeira faísca veio enquanto assistia a um documentário sobre Basquiat. Quando Basquiat deu seus primeiros passos na arte, Rene Ricard, um importante marchand que viu seu trabalho em uma festa, se aproximou dele e disse: “Vou fazer de você uma estrela”. Basquiat surgiu não apenas como um grande pintor, mas também como o embaixador de uma nova forma de entender a arte – o artista como celebridade, como ícone popular. A cena artística de Nova York usou Basquiat como forma de redefinir os limites da arte, como uma nova maneira de vendê-la. Por isso sentimos que, da mesma forma que as revistas usam nossas fotos para vender mais edições ou a indústria da arte usa a imagem e a personalidade icônica de Basquiat para vender sua arte, poderíamos usar Basquiat para vender nossas fotos e dar uma nova vida para eles…As celebridades e modelos que fotografamos tornam-se, assim, uma nova estrela, redefinida pelo uso dos retratos de Basquiat como nossa inspiração.
Por que desenhar sobre os rostos de pessoas famosas?
Já fizemos no passado inúmeros retratos em preto e branco de celebridades e modelos… Você pode sentir que pode realmente conhecer as pessoas retratadas, mas a verdade é que são apenas fotos; você não pode ter um vislumbre da pessoa real por trás da foto. Você tem a impressão de que conhece a pessoa porque ela é famosa, mas, na verdade, não sabe nada sobre ela. Nada sai dessas fotos, além das belas imagens dos personagens famosos. Francis Bacon disse que “o trabalho de um artista é sempre aprofundar o mistério. Mesmo dentro da mais bela paisagem, nas árvores, sob as folhas, os insetos estão comendo uns aos outros; a violência faz parte da vida.” É por isso que amamos a ideia de pintar sobre nossas fotos. Os retratos de Basquiat são crus, viscerais, fortes… Adoramos a sugestão de quebrar a beleza, alterar o rosto e torná-lo quase irreconhecível, tentando mostrar que você não sabe quem é aquela pessoa. Como diz Bacon, precisamos nos aprofundar na essência do personagem e mostrar que há algo profundo, obscuro em todos nós. Queríamos dar uma nova alma às nossas fotos, apenas brincar com o oposto do que vemos… É como um grito, uma resposta para o porquê de se aprofundar no mistério de tudo isso.
Como o trabalho de Basquiat fala com você?
Os retratos inspiradores de Basquiat são fortes, intuitivos e cheios de violência… Adoramos o contraste entre suas pinturas e nossos belos, mas sóbrios, retratos de celebridades em preto e branco. Mas não seguimos estritamente a paleta de cores que Basquiat usou nas obras originais. Além do preto e branco, usamos apenas o vermelho, diferentes tons de vermelho, que simboliza o sangue, tentando mergulhar na natureza humana e obter esse sentimento forte.
Você acha que fotografia de moda é arte?
Isso é muito relativo; uma imagem de moda pode ter uma intenção, uma alma além de apenas mostrar roupas... O que estamos tentando fazer é demonstrar que a fotografia de moda pode ser arte, mas também pode ser apenas um produto comercial.
O que você espera que as pessoas tirem desta exposição?
Se considerarmos essas pinturas em nosso contexto sócio-político atual, todo o conceito tem muito mais sentido... Hoje em dia, todo mundo compartilha fotos, todo mundo usa Instagram ou Facebook mostrando algo que na maioria das vezes não é um momento real, mas algo feito apenas para a foto… um momento de beleza que estava ali só para aquela foto, um sorriso falso, etc… Nossas pinturas tentam brincar com essa ideia; nada do que você vê é real, porque por trás de cada imagem estão sempre escondidas infinitas realidades paralelas da pessoa que você está olhando.